sexta-feira, maio 02, 2008

O DIA DO TRABALHADOR

(Lisboa) Já foi ontem o dia do trabalhador mas só há pouco é que tive oportunidade de ver o Telejornal da RTP Madeira. Leonel Nunes falava sobre as oito horas de trabalho, as oito horas de descanso e as oito horas de lazer do trabalhador. Direitos conseguidos depois de muita luta. Direitos que dignificam o trabalhador, que o valorizam, tornam-no mais competente e mais sóbrio. Dizia o mesmo Leonel Nunes, para aqueles leitores fora do universo Madeira que visitam este blogue e são muitos, conhecido dirigente da CDU na Madeira, esses direitos estarem a ser ameaçados.

Esses direitos estão a ser ameaçados todos os dias e não são só pelo patronato. Estão a ser ameaçados todos os dias também por trabalhadores que estupidamente se dobraram ao liberalismo que tudo consente em nome do lucro e da ambição individual de uma carreira que teima em não evoluir por que a estupidez consegue ser maior que a inteligência. Caros leitores, este é um problema de inteligência, de cultura. Dias houve em que tive o desprazer de trabalhar com pessoas que acham que trabalhar bem é trabalhar muitas horas. Já tive colegas cuja permanência no local de trabalho muito para além da hora de saída se devia unicamente a não terem nada para fazer em casa. Só isso. Já trabalhei com pessoas imbecis perturbadas com o facto do subordinado sair a horas. Só por isso. Já tive a infelicidade de trabalhar com criaturas capazes dos comentários mais ordinários e desrespeitosos para com o trabalho dos outros. Ordinarões, técnica e profissionalmente fraquinhos que encontram no trabalho sem hora para terminar uma justificação para a sua incompetência. De facto quem não tem de cumprir horas pode-se dar ao luxo de ficar eternamente no local de trabalho, prolongando o tempo até não ser mais possível esticá-lo. Até porque o tempo não pode ser acrescentado, um dia tem vinte e quatro horas para todos, ricos e pobres, homens e mulheres, administradores e não administradores. Este ficar eternamente no local de trabalho exclui a culpa perante um erro já que não existe empenho maior possível para tão limitadas cabeças que ficar todo tempo do mundo dedicado a uma situação. Já o infeliz que esforça-se por sair a horas vê exposto o seu erro por não ter permanecido mais tempo a laborar.

Décadas e décadas de luta, inclusivamente com perdas de vidas envolvidas em manifestações, levaram a que tenhamos hoje em dia direitos do trabalhador que estão ameaçadas de serem desbaratadas por estes liberais de meia tigela, nesta sociedade do tou-me nas tintas ou do não é nada comigo. Não é nada comigo leva a que os piores crimes sejam cometidos bem à frente dos nossos olhos sem que sequer tenhamos vontade de os denunciar. É esta a cultura que estamos a passar.

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