quarta-feira, outubro 13, 2010

AEROPORTOS

(Lisboa) Por uma altura destas já deveria estar num estado de odiar os aeroportos. Mas não, não os odeio, odeio certas pessoas que existem nos aeroportos mas que também existem fora deles. Os fura filas são um desses grupos. Para mim não faz diferença esperar mais ou menos cinco minutos numa fila de aeroporto, vou no mesmo avião que estas bestas e vamos todos sair à mesma hora e se aterrarmos, aterramos todos juntos também. É uma canalha que acha por pertencer a um grupo pode se juntar aos elementos do mesmo grupo que chegaram mais cedo à fila do check-in.

Depois estão as tripulações que se acham o máximo. Eles acham que todos nós, os normais, gostaríamos de ser iguais a eles e transformar as nossas vidinhas simples e aborrecidas em aventuras diárias: agora estou em Lisboa mas daqui a umas horas estou em Copenhaga. Amanhã vou para Nova Iorque. Que seca de gente. Coitados, deixá-los lá pensar que são muito bons. Pelo menos são felizes e isso é muito importante. Corrijo, pelo menos parecem ser felizes e isso ainda é mais importante, nos tempos que correm.

Os trabalhadores das lojas, esses sim, têm sorte, nunca vêm as mesmas caras. Aquele cliente chato que só dá problemas nunca mais será visto. Sim, porque os clientes podem ser muito chatos. Existe aquela máxima, o que se costuma dizer por aí, o cliente tem sempre razão. Na verdade até pode ser mas é muito chato. Talvez porque o mundo esteja a ficar chato, com esta moda do politicamente correto e das regras para tudo. Para já, é cliente aquele que paga. Quem paga é cliente quem ainda não pagou ainda não o é e não tem o direito de encher o saco. Depois, se dá muitos problemas e há sempre uns que dão muito e pagam pouco talvez seja bom deixá-los cair. Não sei, nunca fiz um estudo sobre isso mas parece-me razoável deixai cair alguém que conta pouco mas que dá muito trabalho e está a prejudicar o trabalho de outros clientes maiores e mais sérios. Posso estar a escrever barbaridades mas escrever barbaridades pelo menos serve para passar o tempo de uma forma mais ou menos agradável até que se possa embarcar no meu voo.

Os voos da Easyjet são aquilo que os brasileiros chamariam, uma zona. Não há lugares marcados, há shows a bordo sem aviso prévio. Eles escrevem nos aviões Come on let's fly. Quem vê acha, épa são muita porreiros. Mudam de porta de embarque várias vezes. Depois existem aquelas pessoas ridículas que pagam para entrar cinco segundos antes dos outros passageiros. Essas pessoas importantes ficam à frente, ou seja, têm de levar com toda a gente que vai entrar no avião e chegam exatamente à mesma hora que os outros. Já me esquecia, saem do avião cinco segundos antes de todos os outros. E se todos os passageiros do voo pagassem para ser easyjet plus? Todos menos um, eu. Eu ia-me rir tanto.

Um pouco habituado a viver entre Lisboa e Madrid começo a encontrar as mesmas pessoas nos aviões. Esta última frase soa um pouco a pedante. Não sou. Infelizmente, por razões profissionais tenho de o fazer. Conheci alguns que viajam todas as semanas à segunda-feira e regressam na sexta. Fazem-no provisoriamente há mais de dois anos. Vivem em hoteis o ano inteiro. Ao final da tarde ou à noite, quando chegam ao seu quarto ele está sempre impecável. É como um jogo de computador. Começa sempre da mesma maneira para quem perde o nível. Estarei sempre a perder o nível? Se calhar é isso, descobri. Deve haver no meu quarto uma passagem para o nível seguinte, ou então existe uma chave dourada debaixo do colchão que me permite abrir aquela porta secreta ao final do corredor. Vou explorar hoje melhor. Quero ver se passo de nível.

O meu tempo está a acabar e preciso de me juntar aos pangarés que hoje vão para Madrid.

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