quarta-feira, maio 03, 2017

A TELEVISÃO QUE VEM DAS ESTRELAS

(Funchal) Corria o ano de 1993 quando os meus pais decidiram instalar uma antena parabólica lá em casa. Influenciados por um amigo que também tinha instalado uma antena fixa, de noventa centímetros de diâmetro. A de lá de casa tinha mais vinte centímetros que o metro, um metro e vinte para ser mais fácil de perceber e não apontava sempre ao mesmo satélite. Ao todo, a nossa antena escutava cinco posições orbitais e tinha um pequeno mas ruidoso motor. Os vizinhos sabiam quando mudava de satélite. A realidade daquele tempo na Madeira, no início dos anos noventa do século passado ainda era a de um canal, a RTP-Madeira, para quem tivesse apenas uma televisão e um cabo de antena. Até chegar a televisão digital, já neste século, manteve-se assim mas com a adição da RTP-1, ainda em analógico, por volta dos anos 2000. Nos dias em que fazia bom tempo de propagação conseguia-se sintonizar a TVE1, com emissor nas canárias.
Os tempos mudam e a televisão por cabo acabou mesmo por chegar. A Cabo TV Madeirense foi a primeira empresa a distribuir televisão por cabo no país (1), no ano de 1991 ou 1992. A grande novidade eram os quatro canais nacionais, RTP1, RTP2, SIC e TVI, emissão integral e em direto. A SIC foi a última a chegar ao pacote da TV Cabo Madeirense, corria o ano de 1995 se não me falha a memória. Hoje e graças à televisão digital, todos esses quatro canais são distribuídos na Madeira a quem tiver uma televisão e um cabo de antena. Os quatro canais nacionais fizeram sucesso durante os primeiros anos em que eram novidade e exclusivo da distribuição por cabo. Eles e o canal 19, eram sem dúvida os mais populares. Não havia canais de notícias em português e as versões lusas de muitas outras emissões como Discovery, National Geographic e outros, não eram nem sequer uma previsão. Para quem não dominava o inglês os canais generalistas em português eram a cereja no topo do bolo da grelha da TV por Cabo. Mesmo para os que dominavam o inglês a possibilidade de ver programação em português é sempre uma mais valia. Através da parabólica não tinha acesso a esses canais nacionais mas podia ver a RTP Internacional e o Telejornal era em direto com o Canal 1 (RTP1), uma circunstância muito importante já que o Telejornal da Madeira era às 21h e passava as notícias gravadas do noticiário nacional, coladas e alinhadas juntamente com as reportagens locais. Outros canais parabólicos: tinha a Euronews que iniciara as emissões recentemente, a TVE Internacional, a DW, alguns canais turcos, canais árabes e alguns canais de emissões não periódicas de notícias e eventos. A Madeira beneficiava da cobertura que alguns satélites tinham na altura em especial para as Canárias porque o sinal mais forte era enviado para a Europa central, era aí que as parabólicas de reduzida dimensão permitiam captar os canais todos de um determinado satélite. A CNN por exemplo, exigia uma antena maior que um metro e vinte para ser vista em condições mas o lançamento do Astra 1C (2) veio trazer mais alguns canais com boa cobertura na Ilha para uma antena como nós tínhamos. A Eurosport por exemplo, que era transmitida no Astra 1B, o mesmo que a CNN, teve um problema no seu transponder e foi transferido para o novo satélite Astra passando eu a poder ver as transmissões da F1 neste canal com treinos, qualificações e até o warm up de domingo de manhã, um luxo! Mais tarde, no final de 1994, os meus pais acabaram por aderir à TV Cabo, a parabólica nunca permitiu a captação dos canais com qualidade, havia um ruído que nunca percebi se era da instalação RF ou do receptor que não estaria nas melhores condições.
Eu ficava fixado nestas emissões experimentais dos satélites Astra que foram os primeiros a difundir em vários satélites na mesma posição orbital. Cada vez que eu fazia girar a antena ela captava um satélite que emitia uma quantidade de canais. Nos Astra era diferente, eles colocavam vários satélites na mesma posição orbital, um cubo de cento e quarenta quilómetros e cada um deles emitia o seu pacote de canais em frequências diferentes, como se tratava da mesma posição orbital isso evitaria interferência. Do ponto de vista da estação terrestre não interessava quantos satélites estavam co-localizados, o que interessava realmente era a grande quantidade de canais que recebíamos. Depois a grande febre lá em casa (minha que era o único entusiasta e operador dos aparelhos) eram as emissões das rádios. Nas sub portadoras de audio da RTP Internacional eram emitidas as rádios nacionais também elas impossíveis de captar na Ilha. Antena 1, Rádio Comercial, Renascença e RFM apareciam assim acessíveis a mim, integralmente, sem os cortes que as emissoras locais faziam e fazem ainda hoje. Por exemplo, muitas rádios locais usam as rádios nacionais para manter a sua antena nos períodos noturnos, sábados, domingos e feriados.
A rádio que mais ouvia não era portuguesa, era a BBC Radio 1. Cheguei a comprar um emissor de FM que distribuía o sinal pela casa como se fosse uma rádio local. Hoje em dia com a internet em muitos aparelhos, o emissor já não é usado, está engavetado mas continua a ser uma boa solução.

Por curiosidade fui sintonizar os canais da TDT aqui na madeira. O canal HD que não está lá a fazer nada não foi aqui reproduzido pois é simplesmente um ecran negro e sempre o recordo assim:

RTP1
RTP2
SIC
TVI
RTP MADEIRA
RTP 3
RTP MEMÓRIA
ARTV


Referências:
(1) - https://en.wikipedia.org/wiki/NOS_(Portuguese_media_company)
(2) - https://en.wikipedia.org/wiki/Astra_1C

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